A maneira como ela ri enquanto dorme, como seu corpo acompanha o meu durante a noite e como seus lábios me cobrem de beijos inconscientes em seu sono; seu jeito lento de acordar e me contar detalhes de seu universo onírico, de me esperar com café e flores e já sentir saudades mesmo antes de partir.
A maneira como ela chora em filmes e se emociona com o trivial, como abraça árvores e se declara para seus gatos; o jeito de encostar a cabeça em meu peito e escutar meu coração que a acalma, extravazando em lágrimas toda a dor drenada da sua existência; a forma como ela sorri com seus olhos grandes e amendoados, às vezes esverdeados pela luz que emana de sua alma e ilumina meus dias; a maneira como ela potencializa todo amor que há em mim, engrandecendo e enobrecendo meu coração.
A mania de beijar aquele ângulo específico do meu rosto, de sentir meus longos cílios com as pontas dos dedos e morder minhas mãos; o jeito de se aconchegar em meu pescoço para sentir meu perfume, enquanto meus dedos abrem caminho por seus cabelos bagunçados e percorrem suavemente todo seu corpo; as mordidas nas bochechas e a forma como colo seu rosto no meu, os beijos na testa que sugam tudo que há de ruim, os abraços que transcendem e nos levam a outra dimensão.
A maneira como dançamos mesmo sem música, como andamos feito loucas no meio da rua, catando flores e penas, como cantamos juntas sem saber a letra e como montamos histórias mirabolantes para nossos filhos e bichos; a forma como ela se faz presente, mesmo de longe, em cada pensamento e ato meu, como seu rosto me vem à mente antes de adormecer e como anseio por acordar porque a realidade é finalmente melhor que os sonhos.
Júlia Xavier, acadêmica de medicina, bailarina e poetisa.