Tenho observado certos comentários nas redes sociais, jornais e em conversas entre amigos, que as pessoas têm uma determinada visão interessante sobre a sociedade: uma parte, prega dura punições a vândalos, dependentes químicos, psicóticos e todos àqueles que “atrapalhem” de alguma forma o contexto social criado por uma parcela “seleta” da sociedade dita como “padrão”. Como diz Foucault: “tudo o que está fora dos padrões da sociedade é taxado como louco.” Alguns, elegem como problema: tons de pele, vestimentas, aparências e até escolhas individuais.
A outra parte prega o oposto: se nomeando como ativistas dos pobres e oprimidos, repudiam esse comportamento segregatório, com atitudes e opiniões fervorosas em relação a tal parcela “seleta” da sociedade considerando-as racistas, preconceituosas e maus-caracteres.
O que me assusta é elegerem essa parcela “seleta” como sendo constituído de pessoas brancas, ricas, bonitas e de sucesso, caindo no mesmo contexto discriminatório outrora citado.
E assim criam-se eternos rótulos e desconfianças cotidianas nos mostrando nitidamente como a grande maioria das pessoas é preconceituosa: Se uma moça é muito bonita provavelmente deve ser burra (se for loira então!); se ela se relaciona com um homem feio ou velho deve ser “golpe do baú”. Se as pessoas veem uma senhora muito bem vestida com um cachorrinho nos braços, logo enfatizam a sua “futilidade”, se um senhor bem vestido dirige um Mercedes, deve ser um político “corrupto” ou um empresário “esnobe” ou alguém que “odiosamente” já nasceu rico!
Em contrapartida, se um mendigo pede esmola, logo dizem: “só pode ser para comprar drogas”, se alguém diz que passou por uma favela, sempre tem alguém que diz: “você é louco de entrar lá?”; Se um maltrapilho se aproxima, as pessoas logo se assustam (se for negro então!) ; se alguém conta que uma velhinha assaltou uma loja, as pessoa se chocam (como se a idade santificassem as pessoas)... E quem nunca ouviu: "fique longe dele porque ele é doido"? E assim poderia dar exemplos infinitos de estereótipos de “bonzinhos” e “mauzinhos”...
Mas o fato é que existe gente de todo o tipo em tudo quanto é lugar. As pessoas buscam prazeres e a definição de prazer é algo extremamente individual: têm aqueles que o encontram nas relações com as pessoas, na busca ou manutenção do conforto (que envolve segurança e também dinheiro). Algumas pessoas encontram prazer nas relações com substâncias psicoativas, outras com trabalho, com religião, com alimentos, com o sexo e até com a violência – independente de classe social, raça (isso existe?), crença (ou ausência dela) e sexualidade.
E sim, existem loiras inteligentes e elas podem vir a amar verdadeiramente homens feios ou velhos, existem políticos honestos, empresários humildes, idosos mal intencionados, negros esnobes, pobres nada oprimidos, mendigos que querem mesmo comprar comida e pessoas que fazem muito mal em nome do bem.
E pra terminar: não se sintam culpados em querer prosperar, ser rico e bem sucedido, não há mal nenhum nisso.
Daniella Salgado, psicanalista em formação, professora, formada em enfermagem.