Recentemente li uma pesquisa que me deixou chocada e confusa: “Maioria diz que mulher com roupa curta 'merece' ser atacada”, feita pelo Ipea - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Se essa pesquisa fosse feita no oriente médio, onde a cultura religiosa é seguida com veemência durante séculos, eu compreenderia de forma diferente e talvez até soltasse um: “ufa, que bom que moro no ocidente”. Mas não. E agora não sei mais onde estamos ou o que as pessoas querem. Sinto-me sem referencial, porque o que vejo são cada dia mais pessoas, homens e mulheres, preocupados com padrões de beleza, que quando alcançado é nítida a necessidade de mostrar-se. E ao dizer isso, não faço um julgamento, apenas comento algo que faz parte de nossa cultura. Essa é a verdade! Temos a escolha de nos submetermos ou não e isso vai depender de cada um. A maioria das pessoas age e se comporta da maneira que se sente melhor, afinal buscamos o prazer e o conforto e isso é algo individual.
De repente, uma pesquisa é feita e, homens e mulheres, mudam toda uma concepção de pensamento ocidental. Eu fico pensando no que essas pessoas pensaram em dar essa resposta e me assusto ao imaginar o tamanho recalque que elas não devem estar vivendo. E eu, que em meu “mundo de Alice” achava que estávamos evoluindo, que cada cultura evolui a seu tempo e que nós estávamos na frente de muitos: já vislumbrava a legalização do casamento gay, a descriminalização da maconha, a reforma política... Mas não! O “hello” agora foi pra mim e tenho que conviver com isso.
Espero que as pessoas façam uma reflexão da própria vida depois de ler essa matéria, que se questionem enquanto seres humanos que estão nesse mundo para melhorar, que se perguntem o que podem fazer de bom para o outro ao invés de gastar tempo – precioso – criticando tudo e todos de todas as formas. Não estou tentando ditar ideias, nem me acho melhor do que ninguém. Confesso que escrever esse texto é produto de minha sublimação em relação ao assunto. Porque sugerir todos que responderam que “mulher com roupa curta 'merece' ser atacada” a se matarem, pegaria mal. Ops...
Daniella Salgado, psicanalista em formação, professora, formada em enfermagem.