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Psicanálise em prosa e verso - Psicanálise clínica

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O Fenômeno dos "rolezinhos"

19/01/2014 23:17

O psicanalista e gestor de carreira Eliseu de Oliveira Neto explica o "nascimento" dos rolezinhos como um movimento por busca de reconhecimento e liberdade para frequentar locais em que os jovens da periferia eram impedidos simbolicamente de ir. "Teve como objetivo permitir que jovens de diferentes classes sociais pudessem frequentar livremente locais tidos como de classe mais alta - no caso, um shopping -, sem serem reprimidos pelo simples fato de estarem dando uma volta na área - na gíria, dando um “rolé”, daí o nome do evento", explica.

Eliseu ainda aponta para uma "manifestação inconsciente" por parte dessa juventude da periferia e explica que a sociedade é pautada pelo consumo, e isso justifica a busca incessante por identificação e pertencimento por parte dos membros das classes mais baixas, o que torna os jovens mais confusos sobre seu papel na sociedade.

"Acho interessante porque ouço muita crítica, mas acho que tem uma manifestação inconsciente, sobre essa questão da invisibilidade do garoto da periferia. Ele se coloca como 'eu existo, eu estou aqui, e quero consumir'. Hoje, a economia gira em torno do consumo, o contato do governo com a população é através do consumo, pela redução de IPI, por exemplo. Mas parte da população diz 'eu não posso consumir'. São protestos, não sei se de maneira consciente, mas para os psicólogos é muito claro. Existe todo um estímulo ao consumo, mas esse jovem não tem condição financeira para isso, além de todo um processo da mídia para que ele compre. Esse jovem está confuso, ele não tem plenas condições de consumir e fica preso nesse meio-termo", analisa Eliseu.

E mesmo com capacidade de consumo, o que é realidade para a classe C do Brasil, a periferia ainda se sente à margem das classes mais altas. O psicanalista explica que, mesmo consumindo produtos e marcas de grife, os jovens da periferia não são identificados e reconhecidos pela elite, porque são perfis de vivência, personalidade e modo de viver diferentes, e isso ainda gera a distinção, explica Eliseu.

"O que eles fizeram é muito interessante: utilizar o próprio medo da classe média contra a própria classe média. Ela tem medo desse jovem, do seu modo de vestir, de se portar, do funk, ela se assusta porque não é o perfil dela, e o jovem está expondo isso. Eles estão se expondo, dizem 'eu também estou aqui, também consumo, por que não posso entrar [nos shoppings]?'. Quando vão em bando, é uma forma de proteção, porque, sozinho, ele está exposto, pode ser colocado para fora. Alguém disse para ele que ele não pode consumir isso ou aquilo e ele se põe contra isso. Recusar e impedir acesso a eles é crime, e essa segregação está sendo exposta. Foram construídos para eles templos de acesso, nas regiões populares, mas ele se pergunta por que não pode ir ao Shopping Leblon".

O psicanalista ainda explica o movimento do "funk ostentação", música feita por meninos da periferia em que aparecem exaltando seus artigos de luxo, desde carros e motos a relógios e roupas. Para Eliseu, o jovem traça uma relação direta entre o consumo e sua importância no meio em que está inserido.

"Daí vem o funk ostentação, que é sobre alguém da periferia que consome produto de elite, porque ele quer estar inserido naquele espaço em que essa marca coloca o jovem no imaginário popular. Aquilo que ele quer ter é do imaginário popular, que transforma esse jovem em pessoa melhor aos olhos da sociedade", finaliza.

 

Texto enviado por Ivens Góes escrito pelo psicanalista Eliseu de Oliveira Neto.

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