Por tudo que já vivi, tantas pessoas que conheci e que fizeram (e fazem) parte de minha vida de alguma forma, a troca de vivências, as histórias contadas, os conselhos pedidos, as palavras não ditas, os momentos inesquecíveis... Enfim, toda a relação com outro, inclusive as impessoais, de pessoas desconhecidas que passam por mim, as expressões corporais, as conversas ao celular (impossíveis de não ouvir)... Existe em mim uma pergunta que não quer calar: por que tantas pessoas são infelizes?
Os assuntos são diversos, mas a queixa está lá, firme e forte. Como se já fizesse parte da personalidade, a não satisfação, o pessimismo eterno. Alguns nem adianta contestar, sacudir, aconselhar, ajudar seja para o que for: se ofendem! Estão tão acostumados com a infelicidade que esse estado de espírito se tornou referencial da própria pessoa.
Entedam, não estou acima do bem e do mal, existem dias ruins, que temos menos paciência e reação mais intempestiva. Obviamente, está claro que reações passionais só pioram o objeto que a causou, mas ninguém está livre. Tenho minhas pulsões e relações com os objetos iguais a todo mundo. Não é saber que todas as pessoas sofrem e sentem angústias diversas que se trata esse texto. A questão é sobre a incapacidade de ser feliz que algumas pessoas têm. Pessoas, que provavelmente vão encher esse texto de defeitos porque vivem no mundo do “nada está bom”.
O que é felicidade afinal? Acredito que é o saber lidar com as adversidades. Parace fácil, mas não é. Existem momentos de desequilíbrio, mas entenda-os como momentos! O que definirá a finitude ou não de sentimentos pessimistas somos nós mesmos. O que me assusta é a falta de esperança em tudo. É uma lamúria eterna de como a vida é injusta e ingrata e como nada dá certo. Pessoas que tinham tudo para serem felizes: nasceram bem, tiveram pais amorosos, boa educação, oportunidades, boas amizades... Mas não é o bastante. Estão sempre reclamando de tudo! Não tendo crítica sobre si, não aceitando conselhos, tendo sempre uma resposta felina na ponta da língua para nos provar que o mundo foi feito em preto e branco.
Poderia dizer mil coisas... Desde a beleza de um sorriso ou de uma gargalhada entre amigos. Da simples beleza de um sonho, do prazer da gentileza, da vontade de ajudar, do valor de um conselho, do carinho da família, do reconhecimento por um trabalho bem feito... Podia falar da natureza e nosso contato com ela, de nossas sensações infinitas... Poderia dizer sobre o valor das pequenas coisas, do amor presente em todas as relações e na esperança de mundo melhor... Mas temo cair na mesma retórica cansativa tão comentada por aqueles que decidiram serem infelizes e por quê?
Essa falta de resposta me constrange. Deixa-me em suspenso, me fazendo pensar que talvez tem de haver mesmo pessoas alegres e tristes, coexistindo, para talvez justificar um equilíbrio psíquico mundial, ou para nos ensinarem a como não agir, ou essa realidade seja apenas parte de minha angústia pessoal de constatar que afinal, não existem respostas para todas as perguntas.
Daniella Salgado, psicanalista em formação, professora, formada em enfermagem.