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Psicanálise em prosa e verso - Psicanálise clínica

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Ser analista é...

24/02/2014 20:07

Diferentemente da época de Freud, ser psicanalista (ou analista) hoje é culturalmente visto com ares de requinte e sofisticação. A cultura idealizou de certo modo a figura do analista como alguém que possui uma aura de mistério e conhecimento seguro sobre si e sobre os outros.
Fatalmente, muitos analistas apegam-se a esse ideário cultural e assumem certas posturas burocráticas para se autorizarem a ser chamados pelo título de "analista". Quanta bobagem... ser "analista" não confere nenhum status de poder, a não ser pelo apego narcísico que certas pessoas tem e certas instituições de ensino reforçam, de que há um certo "algo" em ser analista.
Não raramente, ouvimos em círculos de formação psicanalítica, em congressos, conversas entre analistas, e até em aulas, um discurso que beira o discurso religioso, de que o "analista" deve ser aquela pessoa que tem em seu consultório o único espaço possível para o exercício da Psicanálise, e que ao exercê-la, o deve fazer com uma distância tal de seu analisando, que caso o veja na rua, deve atravessar a calçada para não correr o risco de quebrar um certo "distanciamento" necessário à análise. Quanta bobagem, não entenderam o significado da "atenção flutuante" em Freud, que mais que um distanciamento da pessoa do analisando, é uma postura no exercício da clínica.
Essas pessoas não leram Freud, sequer sua biografia. O pai da psicanálise atendeu Katarina nas montanhas e Mahler num passeio por Leyden... por aí vemos quanta bobagem analítica escuta-se ainda hoje.
Fora essa questão, ainda há os que defendem que a psicanálise deve ser exercida somente por médicos e psicólogos, ora, não leram sobre a "Análise leiga" em Freud... então se é "analista" sem ler Freud, sem captar sua mensagem? Não dá para estar no consultório atrás do divã sem saber das ousadias clínicas praticadas pelo pai da psicanálise.
O que quero pontuar aqui é que ser Analista é mais que usar ternos e vestidos discretos em consultórios brancos, com baixa luz e poucos acessórios para não "distrair o paciente". Ser Analista é acolher aquele que sofre, é manter-se atento pela escuta, à dor de cada indivíduo, e não vê-los apenas como "casos clínicos" a serem levados ao supervisor, mas como pessoas que merecem o máximo empenho de nossa parte.
Em suma, ser Analista é ser uma figura arrojada, que vira as costas para a burocracia criada para defender uma certa posição social da figura narcísica criada acerca dos analistas para protegê-los de seus próprios buracos narcísicos. É preciso mais: mais empenho, mais estudo, mais respeito aos que nos procuram; e menos: menos burocracia, menos jogos de captura narcísica que muitos fazem para manterem seus analisandos atrelados não à análise, mas à figura do "analista".
Gosto muito de uma imagem que me diz que o Analista é aquela figura por detrás do divã, necessário à cena, mas absolutamente dispensável, sob o ponto de vista de sua pessoa, necessário apenas enquanto "zelador do processo analítico". Quando o analista se coloca como um sujeito detentor de um saber, ele deixou de ser analista.
Ser Analista é não corromper-se pela figura narcísica criada e reforçada pela cultura, é abandonar-se dela, para que possa efetivamente exercer o que Freud chamou de Psicanálise.

Alessandro Alves, psicanalista em formação pelo Núcleo Távola - Ribeirão Preto, bacharel em Filosofia pela PUC-RS e graduando em Letras pela UNIESP.

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