"Felicidade como algo individual: você é capaz, você está vivo!"

Psicanálise em prosa e verso - Psicanálise clínica

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Utilidade/inutilidade (Como assim?)

05/02/2014 12:36

Gente, já começo me desculpando, porque sei que muitos irão 'chiar', mas tenho que expor minha opinião: Esse vídeo fofinho do Padre Fábio de Melo, "Utilidade" - muito compartilhado pelo facebook, é para mim um monte de palavras ditas de forma romântica mas sem substâncias reais. A mensagem prega que: o amor de verdade é amar alguém que perdeu a utilidade. O que é utilidade??? Pensem!!! Um dos significados é alguém que 'satisfaz uma necessidade'. E não há nada mais individual do que satisfação. Eu não concordo em limitar o amor a uma receitinha única para todos.

As pessoas aproveitam um pouco de respostas genéricas para desenvolver teses de boa conduta seja no amor ou no que quer que seja. O que nos satisfaz? "Amar e sermos amados"? Isso é muito vago, porque a necessidade e o amor varia de pessoa para pessoa. Cada um é um ser único em busca de prazer e conforto. A forma de se relacionar e obter esse prazer é individual demais. E outra, sempre que me vejo velhinha, me imagino uma senhora ativa, usando a sabedoria dos anos a meu favor, dançando, namorando, sorrido... A fala do padre sugere que o idoso é inútil! Como assim? Se a questão for " inutilidade" por doença, existe mais uma infinita variável. "Qual doença"? "Estou apta para cuidar"? "É reversível"? "A personalidade é afetada"? Uma pessoa pode estar num estado terminal numa cama e ainda sim ser mais útil do que muita gente sã. E outra - mais ainda: amar e deixar de amar é um direito inalienável e inexorável para aquele que se sente vitimado. Tenho preguiça de frases do tipo: "Ele não me amou de verdade" e/ou "ele é mau-caráter"...

Não sou religiosa, só uma mulher - fálica - neurótica e estudante de psicanálise mas venho apresentar meu humilde conselho: Esqueçam o tempo, medidas e receitinhas; o amor pode chegar ou não, permanecer ou não, ser intenso para um e não para o outro. Não disputem intensidade e eternidade. Se alguém deixou de te amar, não pense em verdades ou mentiras; pense que cada um tem a sua maneira de amar, de sentir e de querer e que também tem direitos a finitude desse amor. Amar é um risco; a única certeza é de que nascemos e morreremos. E não quero chegar na velhice e pensar que alguém esteja comigo por gratidão, ou para passar recibo de que me ama "de verdade" porque não me largou na minha "inutilidade". Façam um favor a mim - e a si mesmos: se vierem a me achar inútil podem me largar sem culpa, ok?

Daniella Salgado, psicanalista em formação, professora, formada em enfermagem.

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